Pesquise assuntos deste blog:

domingo, 24 de novembro de 2013

GLAÚCIA GUERRA SE FOI...

Olá, queridos leitores.

Mais uma vez quero me desculpar por tanta demora em atualizar o blog. Vida muito corrida.

Hoje venho falar sobre um assunto muito triste, a morte de uma amiga (assim considero) e uma grande artista: GLÁUCIA GUERRA DE OLIVEIRA. No dia 02 de novembro do corrente ano, em CRUZ DAS ALMAS - BA.

Infelizmente, eu estava viajando, quando fiquei sabendo da morte de Gláucia Guerra, por isso não pude comparecer ao sepultamento, mas fiquei profundamente comovida com o ocorrido e gostaria de ter ido ao último momento, me solidarizar com a família e os amigos.

Não vou me estender muito, quero apenas ressaltar o talento, a garra e as qualidades dessa mulher que deixou grandes obras: na pintura, na música, na literatura com suas poesias, contos, etc, etc.

Eu já fiz uma postagem aqui sobre Gláucia Guerra, quando ela ainda estava entre nós (conferir: http://tomprosaico.blogspot.com.br/2013/06/musica-regada-poesiaou-poesia-regada.html).

A vida nos prega muitas peças; somos absorvidos pelo dia a dia, pelo trabalho pelo ritmo louco e muitas vezes nos privamos de estar com a família e os amigos e, quando nos damos conta...a vida passou; pois é, a vida passa rápido e deixamos muitas vezes de viver, de aproveitar os bons momentos, de fazer valer grandes momentos.

Abaixo, uma foto antiga (uma das poucas) em que GLÁUCIA GUERRA aparece.

Da esquerda para a direita:
Gláucia Guerra, Hermes Peixoto e Lita Passos
Selecionando poemas para o I Concurso de poesias
Cruz das Almas BA
(Arquivo: Hermes Peixoto)
Gláucia, Luís Guru, Lita Passos e Hermes Peixoto
 Casa da Cultura - Cruz das Almas - BA - 1989
(Arquivo: Hermes Peixoto)
Confiram a seguir dois poemas de Gláucia: Tear e Poema do Espanto.

TEAR

Tuas mãos audazes
varrem o meu salão de vísceras
e movem os plânctons
alagados de medos.
De tuas mãos o que é loquaz
são os suores que deslizam
em minha tez.
É onde me sinto morrer
no delicado tear
dos teus fios de murmúrios.
E tua linguagem de sustos
faz soluçar o medo que borbulha
enquanto um lago de lágrimas
inundam minhas mãos indefesas
presas a meu silêncio que me torce
e me aflige como areia movediça.

POEMA DO ESPANTO

Ó sangue efervescente
entre paredes de alabastro!
Lauto é o ácido diluente
corroendo os dentes trincados
entre canais de lúgubres ensaios
Ah! e esse desafio de mosteiro
entre velas descamadas
que me escapa o domínio.

Não vejo em que cérebro
os banquetes
são o interminável da fome,
da sede ardente.
Quisera o poema fulgurar saciado
escapando de um verso mísero.
Mas há um braço de lenha
feixes de dores e espanto
enquanto os lábios se devoram
num ato de penitência.

Abaixo, segue um acróstico de CYRO MASCARENHAS, em homenagem a  GLÁUCIA GUERRA. Esse acróstico é uma síntese de quem foi essa grande mulher e revela títulos de algumas de suas obras. Bela homenagem, belo texto!

ACRÓSTICO

G lória te seja, oh, poeta!
L aurel dos deuses mais sábios
A quem te juntaste, em simbiose,
U rdindo versos de esteta.
C om a magia da arte e cognição
I nimaginável aos mortais
A ssentastes afrescos da paixão.

G ueixa da pintura e da poesia,
U ma visionária que ao despir mantos
E ncontra luzes marginais da manhã
R efletidas em versos, com maestria,
R esvala por teu corpo e mente
A energia de mulher guerreira

D esvelando os delírios da vida
E m áura volátil, passageira...

O nde quer que o amor proclame
L iberdade, sem afasia, 
I nvadindo espaços sombrios
V encidas serão as amarras
E lá estará a tua poesia
I dentificada com as telas
R utilantes e coloridas -
A sserção de divina parceria.

Eu gostaria de publicar outras obras de GLÁUCIA, porém, não disponho de muita coisa aqui. Fica então, meu reconhecimento, minha singela homenagem a essa grande artista e os meus sinceros sentimentos à família GUERRA.

CARPE DIEM!!

sábado, 9 de novembro de 2013

UM POUCO DE DRUMMOND

Olá, leitores.

Sim, sumida! Vida corrida...viajando...correndo contra o tempo. Desculpem-me a ausência.

Passei rapidinho pra não perder o costume, pra matar as saudades e deixar um pouco de Drummond pra vocês, tá?

Vamos ver alguns dos melhores poemas desse grande escritor...


LUTAR COM PALAVRAS


Lutar com palavras
É a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, são fortes
como o javali.
(…)
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não tem carne e sangue
Entretanto, luto.
Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
(…)
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
outra sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o subtil queixume.
Mas ai! É o instante
de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca,
tudo se evapora.
(…)
O teu rosto belo,
É palavra, esplende
na curva da noite
que toda me envolve
(…)

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
E para concluir...
AS SEM-RAZÕES DO AMOR 
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
CARPE DIEM!!