Hoje eu quero partilhar com vocês um pouco de poesia.
Eu estou lendo e fazendo um trabalho sobre Jacinta Passos, escritora, poetisa, intelectual e jornalista cruzalmense, que nasceu em 1914. Jacinta foi um mulher à frente do seu tempo, engajada politicamente e lutou contra as injustiças sociais. Foi contemporânea de Carlos Prestes com quem militou na política. Também foi amiga e militou ao lado de Jorge Amado. Jacinta foi casada com James Amado, irmão de Jorge Amado e teve uma única filha, Janaína Amado.
A vida dessa mulher foi marcada por lutas e momentos extremamente difíceis. Em 1951 teve crises nervosas que, mais tarde foram diagnosticadas como esquizofrenia paranóide, considerada como uma doença progressiva e irrecuperável. Jacinta recebeu tratamento à base de choques elétricos, injeções de insulina e barbitúricos. Em 1955 foi separada definitamente do marido e de sua filha. Por fim, foi internada diversas vezes e acabou vivendo o resto de seus dias em estado de extrema pobreza, vivendo em um barraco e, posteriormente foi nternada num sanatório, onde produziu poemas belíssimos, entre eles "Comprimidos poéticos".
Versos como esses abaixo, mostram a sensibilidade da poetisa:
Simplesmente,
Tranquilamente,
Eu me abandonarei a ti num gesto de oferenda.
Encontrarás no meu olhar a compreensão das palavras que não disseres. Jacinta escreveu poesia religiosa, política e lírica amorosa. Seguem outros versos, desta feita, pertencentes à "Poesia perdida":
Ó! a poesia desse momento que passa,
a grande poesia vivida neste instante
por todos os seres da terra,
que palpita nas coisas mais simples
como um rastro luminoso de Beleza
e, sem uma voz humana para eternizá-la,
se perde para sempre, inutilmente...
Por que existo, Senhor, quando não posso cantar?
Abaixo, segue uma das poesias dela que eu gosto muito, cujo título é "Canção do amor livre"
Se me quiseres amar
não despe somente a roupa.
Eu digo: também a crosta
feita de escamas de pedra
e limo dentro de ti,
pelo sangue recebida
tecida
de medo e ganância má.
Ar de pântano diário
nos pulmões.
Raiz de gestos legais
e limbo do homem só
numa ilha.
Eu digo: também a crosta
essa que a classe gerou
vil, tirânica, escamenta.
Se me quiseres amar.
Agora teu corpo é fruto.
Peixe é pássaro, cabelos
de fogo e cobre. Madeira
e água deslizante, fuga
ai rija
cintura
de potro bravo.
Teu corpo.
Relâmpago, depois repouso
sem memória, noturno.
Em 28 de fevereiro de 1973 Jacinta Passos morre no sanatório, Casa de Saúde Santa Maria, em Sergipe, aos 57 anos de idade, deixando uma obra valiosa.
Bem, fica aqui um pouco da história e da poesia dessa mulher singular que revolucionou a Bahia em uma época em que as mulheres ficavam praticamente reclusas. Infelizmente Jacinta Passos ficou por muito tempo esquecida, mas agora, parece que resolveram fazer justiça, trazendo à tona a sua produção literária e um pouco da sua história. Pena que ela não esteja mais aqui para receber todas as homenagens e reconhecimento.
Carpe diem!
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