Hoje eu estava lendo na página do Bol sobre a foto histórica, símbolo da guerra do vietnã (tirada em junho/1972) que mostra uma criança correndo, tentando escapar das explosões na vila de Trang Bang, na província de Tay Ninh.
O autor da foto, Huynh Cong Nick Ut, conta que chorou quando viu a menina Phan Thi Kim Phuc correndo, queimada, atrás de seu irmão. Ele a socorreu, levou-a pra o hospital e fez os médicos garantirem que cuidariam dela. Ut diz ainda na entrevista que se ele não tivesse ajudado aquela garota e alguma coisa acontecesse que a levasse a morte, ele acredita que se mataria depois. Esse acontecimento criou um laço afetivo ente Ut, o fotógrafo e Phuc, a vítima que dura até hoje. Ut afirma que nunca mais deixou de falar com Phuc.
Enquanto eu estava lendo a reportagem, me ocorreu uma outra história semelhante. Trata-se da foto abaixo (tirada em março de 1993) que ficou internacionalmente conhecida e cuja autoria pertence a Kevin Carter, fotógrafo sul-africano, que, cobria uma matéria sobre a fome no sul do Sudão, causada pela guerra civil.
Assim como Ut, Carter recebeu o prêmio Pulitzer, o qual é concedido a pessoas que realizam trabalhos de excelência na área de jornalismo, música e literatura.
Mas, o que diferencia, em essência, o trabalho de Ut do de Carter? Ambos não foram extremamente profissionais? Sim, trabalhos excelentes, ex-tre-ma-men-te profissionais, contudo, Ut foi profissional, mas não desvinculou o profissionalismo do lado humano, enquanto Carter foi meramente técnico, profissional. Ut, salvou uma vida em meio a uma guerra, Carter, fez a foto e foi embora, deixando a criança à mercê do abutre, pois, naquele momento, para ele, o mais importante era ir em busca de outros trabalhos relevantes.
Huyn Ut recebeu um prêmio importante e continuou em paz com sua consciência, teve uma atitude digna, não ignorou um ser humano que necessitava de ajuda. O trabalho realizado por Kevin Carter trouxe-lhe popularidade, mas também o questionamento das pessoas que queriam saber por que ele escolheu ser meramente observador e não salvador. Carter suicidou-se depois de algum tempo, pois viveu atormentado pela sua consciência, pela sua omissão diante daquela situação tão deprimente.
No dia 27 de julho de 1994, já sem dinheiro, em situação difícil, Carter levou seu carro até um local onde passou sua infância e suicidou-se utilizando uma mangueira para levar a fumaça do escape para dentro do seu carro. Ele morreu envenenado por monóxido de carbono, aos 33 anos de idade. Deixou uma carta em que dizia se sentir perseguido pelas lembranças de assassinatos, cadáveres, raiva e dor; pelas crianças famintas; pelos homens malucos com o dedo no gatilho, muitas vezes policiais, carrascos... Depois disso, Carter afirmou: "vou me juntar ao Ken (seu amigo falecido), se tiver essa sorte."
A grande diferença entre Carter e Ut estava no altruísmo, estava nos valores totalmente diferentes. Ut privilegiou a vida num momento decisivo. Carter foi frio, calculista e indiferente ao sofrimento do ser humano.
Infelizmente estamos vivendo num mundo assim. Algumas pessoas são como aquela criança, rastejando, sofrendo. Outras são como o abutre, irracionais, insensíveis, indiferentes.
Deus nos dê graça e mais amor pelos nossos semelhantes. Tomemos o exemplo de Ut que teve uma atitude nobre. Sejamos bênçãos e abençoadores e não abutres.
Carpe diem!
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